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RESUMO:
Este trabalho procura mostrar uma  alternativa de Orientação Familiar, segundo o modelo cognitivo, que tem  por objetivo incrementar a qualidade nas relações do grupo, orientando  sobre condutas mais adequadas para a família, obtendo ganhos tanto para  os familiares, bem como para a recuperação dos dependentes.
O trabalho é desenvolvido em seis sessões semanais, com temas  previamente estabelecidos, possuindo uma duração de 75 minutos, na qual  são reunidos um ou mais membros de cada família, totalizando ao máximo  oito famílias. Contamos com uma amostra de 146 famílias atendidas no  ambulatório da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da  UNIFESP/Escola Paulista de Medicina – Depto de Psiquiatria, durante o  período de 1995 à 1998, sendo o dependente (álcool ou drogas) usuário do  programa de tratamento ou não. Será descrita a população participante  em termos de dados demográficos, tratamentos realizados para os  familiares e dependente, expectativas em relação ao grupo de orientação  familiar, formas que a família encontra para auxiliar o dependente e  motivos para este ter desenvolvido a dependência. 
UNITERMOS: Família, Dependência Química, Álcool, Drogas, Orientação
Family Orientation for Chemically Dependent Patients: family profiles, expectations and strategies
Abstract
This article describes a form of Family Orientation using  concepts from cognitive therapy aimed at improving the quality of the  relationship between the patient and his or her family, by orientating  the family towards more appropriate responses to the patient's addictive  behaviours.
The intervention takes place over 6 weekly sessions each  lasting about 75 minutes, with one or more family members participating  up to a maximum of 8 families. Each session is based on a predetermined  topic, although families also have the opportunity to raise their own  concerns. One hundred and forty-six families were treated at UNIAD  (Alcohol and Drug Research Unit) of the Federal University of São Paulo  from 1995 up to 1998, irrespective of whether the dependent family  member was also undergoing treatment at the same institution. The  results presented concern the sociodemographic details of the families  that attended, their expectations in terms of the treatment offered, the  coping strategies that they had already developed, how these strategies  had developed, beliefs about why their family member had develpoed  substance abuse and a description of the interventions suggested during  the sessions.
Key words: Family intervention, Alcohol, Substance Misuse, Counselling
INTRODUÇÃO
A abordagem familiar em dependência química teve  início em 1940, com a criação dos grupos de Al-Anon por parte dos  Alcoólicos Anônimos. A partir desta época o tema passou a receber maior  atenção, sendo encontrados aproximadamente 400 estudos entre o período  de 1954 à 1978 (18) e pelo menos o dobro deste número até 1988 (8; 17;  12).
Em 1981, Wegsheider (22) introduziu o conceito de co -  dependência, caracterizado por uma obsessão familiar sobre o  comportamento do dependente e seu bem-estar, onde o controle do consumo  alcoólico passa a ser o eixo da organização familiar (4) .
A abordagem sistêmica trouxe o conceito do paciente  identificado, no qual o sistema familiar faz o pedido: "ajude-nos a  mudar o paciente sem interferir em nossas relações". Este pedido, de  certo modo, reflete que a pessoa sintomática parece ficar aprisionada  num papel em que a família resiste às mudanças (1).
A literatura aponta a importância da família na reabilitação do  dependente. Em estudo de seguimento com narcóticos em tratamento  hospitalar, no estado de Nova York, foi encontrada a porcentagem de 90%  de pacientes com idade ao redor de 22 anos, que após a alta voltavam a  morar com suas respectivas mães, enquanto 59% dos pacientes na faixa de  30 anos voltavam a morar com as mães ou parentes, como avós ou irmãs  (21). Goldstein et al. (7) situaram que os dependentes químicos tendem a  utilizar o lar como um ponto de referência constante em suas vidas.  Estudo com homens usuários de cocaína ou opiáceos, na faixa etária de 30  a 42 anos, mostrou que 82% mantinham um contato constante com sua  família de origem por telefone ou pessoalmente e que em 60% dos casos, o  pai era ausente na infância. Tal fato pode ter criado a necessidade  prematura na criança em assumir responsabilidades adultas, contribuindo  para a iniciação no consumo de drogas (3).
Na realidade, a abordagem familiar em dependência química como modalidade de tratamento é recente. Vários modelos
 de  atuação estão em operação, sendo que a maioria dos terapeutas  familiares vem descobrindo a sua própria mistura, utilizando uma gama de  idéias e práticas diferentes (2). Indiscutivelmente, a família é um  fator crítico no tratamento e sua abordagem é um procedimento  fundamental nos programas terapêuticos (9). Contudo, até o momento não  foi estabelecida uma abordagem de maior eficácia nesta área.
Na década de 90 houve rápido crescimento das terapias focadas  na solução, onde o objetivo não é examinar as causas da doença ou  disfunção, e sim enfatizar as soluções (5). Este método parece ser  facilmente aprendido e aparentemente traz resultados rápidos porque se  concentra no problema, sendo de maior aceitação para as famílias e  dependentes, pois não atribui responsabilidades implícitas. Os sintomas  são tratados como se existissem e funcionassem simultaneamente no  indivíduo e entre os indivíduos. Neste contexto, o terapeuta utiliza o  "reenquadramento", onde os problemas da família ou do paciente são  colocados numa estrutura de significados, oferecendo novas perspectivas e  possibilitando novos comportamentos. Não deve existir a preocupação da  neutralidade analítica, necessitando que o terapeuta fique mais próximo  do grupo , utilizando-se de orientações, informações, sugestões,  incentivos, proibições, entre outros.
O que as pessoas esperam de uma terapia breve ou de um grupo de  apoio depende do quanto elas estão envolvidas e afetadas com a situação  do uso de drogas, podendo ocorrer variações entre diversos tipos de  pessoas, culturas, subculturas e grupos étnicos. Logo, o tipo de suporte  pode ser decidido com referência neste tipo de envolvimento, mas em  geral é esperado (11): 
- Fazer com que as pessoas sintam-se mais contentes e  felizes, menos preocupadas e ansiosas e consigam visualizar atividades,  sentimentos ou situações positivas, reestabelecedoras de sua saúde  mental; 
- Não estar sempre zangado ou frustrado, demonstrando  capacidade de falar sobre seus sentimentos. Ao abrir um espaço para  falar sobre estes, as pessoas envolvidas tornam-se mais conscientes de  suas reações de violência, podendo evitá-las;
- Não falar o tempo todo sobre drogas, mantendo um diálogo saudável sobre outros aspectos da vida;
- Trabalhar a sensação de que nada pode ser feito ou  sensação de estar amarrado. Perceber que existe a possibilidade de fazer  algo ou simplesmente aceitar o fato de que não pode fazer nada em  determinadas situações; 
- Tentar fazer o melhor pela família e para si mesmo, levando em conta as necessidades de todas pessoas envolvidas;
- Estar apto para ouvir, pois muitas vezes o simples fato  de ouvir pode ser terapêutico. Ser capaz de contar aos outros o que  pode ser feito e não ficar chateado quando as coisas não acontecerem  conforme o esperado;
- Estimular a capacidade de sair e se divertir, sem  sentir culpa por ter bons momentos, tornando as pessoas aptas para  realizar atividades fora do lar.
Tendo em mente algumas destas idéias, foi organizado o serviço  de Orientação Familiar, desenvolvido durante o acompanhamento  ambulatorial de dependentes químicos de um serviço público. Vale  ressaltar que não era condição necessária o paciente estar em  acompanhamento. Em alguns casos a família deu continuidade ao  tratamento, enquanto os pacientes o abandonaram.
O objetivo deste trabalho é apresentar os dados iniciais da  criação de um serviço de orientação familiar para dependentes químicos  na unidade, segundo o modelo cognitivo. Este grupo foi criado devido a  necessidade de acolher familiares de dependentes/usuários de drogas ou  álcool, que por vezes procuravam os terapeutas devido: 1- Recaídas dos  dependentes; 2- Desistência do tratamento; 3- Condutas que dificultavam a  recuperação do paciente (Ex.: dar dinheiro, fiscalizar, desconfiar e  vigiar ostensivamente, entre outros); 4- Ansiedade no trato com o  dependente/usuário no lar.
Foi realizada uma análise descritiva dos dados obtidos 
no período de 1995 à 1998, totalizando 
26  grupos de familiares de dependentes químicos em acompanhamento  ambulatorial na UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas),  pertencente ao Departamento de 
Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.    
Foi utilizada uma amostragem de conveniência, pois 
a  pesquisa ocorreu apenas com as famílias que procuraram o serviço. O  encaminhamento era realizado através do próprio ambulatório  especializado no tratamento de dependência química (triagem, durante a  desintoxicação ou através do terapeuta que acompanhava o caso - 36%),  por outros serviços da comunidade (35%), por outras pessoas que  participaram anteriormente do serviço de orientação familiar (12%), por  outros departamentos da UNIFESP (9%) e meios de comunicação (8%) .  
Os instrumentos utilizados para a pesquisa foram dois  questionários semi - estruturados que os familiares recebiam na primeira  e última sessão. O primeiro questionário continha questões referentes a  informações sócio demográficas e tratamentos anteriores e atual do  familiar bem como do dependente; fonte de encaminhamento; o que o  familiar esperava da orientação familiar; o que o familiar havia feito  para auxiliar o dependente quanto ao uso de álcool e drogas; existência  de motivos para o desenvolvimento da dependência química. O segundo  questionário investigava qual a melhor forma para auxiliar o dependente  após a participação no grupo; o conceito de dependência; o que foi mais  importante no tratamento.
TIPO DE SERVIÇO
Objetivos:
 
- Fornecer informações e orientações em como  lidar com a dependência química, objetivando a melhora nas relações  familiares e adequação de condutas;
- Sensibilizar os próprios familiares quanto ao aspecto emocional, permitindo que examinem atitudes ensejadoras de recaídas;
- Propiciar meios para que os familiares sensibilizem o dependente/usuário para recuperação;
Os participantes deste grupo eram basicamente pessoas que  mantinham vínculo estreito e próximo com o dependente/usuário, não  restringindo-se a família biológica. O grupo era fechado, com seis  atendimentos semanais de 
75 minutos de duração, com a presença de seis famílias e 
sem a presença do dependente. O serviço era coordenado por uma psicóloga e uma estagiária de 
psicologia. As famílias que possuíram mais de duas faltas eram desligadas do grupo atual e convidadas a participar da formação de 
um próximo grupo que funcionava nos mesmos moldes. Cada sessão era estruturada com a seqüência descrita na Tabela 1.    
RESULTADOS:
A amostra inicial contou com 146 familiares,  totalizando 26 grupos acompanhados na UNIAD (Unidade de Pesquisa em  Álcool e Drogas), pertencente ao Departamento de Psiquiatria da  Universidade Federal de São Paulo, sendo que 
81 (56%) participaram de todos os atendimentos; 
40  (27%) tiveram de 1 a 2 faltas e 25 (17%) familiares foram considerados  desistentes. Tal fato justifica o número inferior da amostra no segundo  questionário (N=81) e o índice de 83% (N= 121) de aderência ao  tratamento.  
Os dados demográficos referente ao perfil dos familiares e  dependentes assistidos no serviço ambulatorial foram demonstrados na  Tabela 2. Quanto aos familiares, 
vale  ressaltar que o convite de participação no grupo de orientação familiar  era estendido a toda família, porém 82% da amostra total não teve um  segundo parente participante. Dos 18% que participaram com um segundo  parente, a maioria eram padrasto/madrasta ou pai/mãe (12%). 
Com relação ao tipo de droga utilizada pelo dependente, 35%  (N=51) eram alcoolistas e 65% (N=95) dependentes ou usuários de drogas  ilícitas, sendo mais freqüente a utilização de crack, maconha e cocaína  concomitantemente (30%).
Os familiares foram questionados quanto ao tempo de uso de  drogas/álcool comunicado pelo pelo próprio dependente/usuário à família  onde foi encontrada a mediana de 
4 anos para drogas e de 
15  anos para álcool. Contudo, os familiares relataram a descoberta do uso  de drogas com mediana de 1,6 ano para drogas e 10 anos para álcool.   
Da amostra total, 70% (N=103) dependentes/usuários estavam em  tratamento, sendo que 86 destes eram assistidos no local da pesquisa, 11  realizavam atendimento psicológico, psiquiátrico ou médico e 
6  pacientes foram encaminhados a locais de internação pelo próprio  ambulatório onde foi realizada a pesquisa. Apenas 51 (35%)  dependentes/usuário relataram algum tipo de tratamento anterior, sendo  os mais freqüentes internação (57%) e ambulatorial (27%). 
Com relação à participação dos familiares em algum tipo de assistência no passado, apenas 
48 (33%) confirmaram 
esta  participação, sendo os mais freqüentes: acompanhamento durante a  internação (29%), acompanhamento ambulatorial (25%) e grupos de auto -  ajuda (25%) .  
Foi perguntado aos familiares o que era esperado deste Grupo de  Orientação, e a grande maioria alegou a necessidade de orientação  profissional em como lidar com o dependente (31%) e a cura da doença  (30%) - Tabela 
3. 
Quando questionados 
sobre o que haviam feito para auxiliar o dependente/usuário quanto ao uso de drogas/álcool, a maioria citou a 
postura  de acolhimento, aconselhamento e diálogo (32%). Em seguida, surgiram as  posturas de diálogo e acompanhamento em tratamento (15%) e  acompanhamento e procura de tratamentos (13%) – Tabela 4.  
No que se referiu a existência de algum motivo específico por 
parte  do dependente que levou ao uso de drogas/álcool, os familiares alegaram  não saber especificar os motivos, mas acreditaram que estes existiam  (23%), e 13% citaram a não existência de motivos. A Tabela 
5 mostra outras causas.  
No término do tratamento de Orientação Familiar, foi fornecido o  segundo questionário aos familiares que avaliou novamente qual a melhor  forma de auxílio ao usuário/dependente após a participação no grupo.  Houve predomínio de respostas referentes a importância das orientações  recebidas para melhorar o relacionamento com o dependente/usuário e a  influência da troca de experiências no grupo (31%). Em seguida, foi  relatada a importância dos esclarecimentos sobre limites (13%) e a  modificação na forma de relacionamento (13%) – Tabela 6.
Quanto ao conceito de dependência, a resposta mais freqüente  foi a necessidade física e psicológica da substância (26%) e uso diário  em termos de freqüência e quantidade (21%) – Tabela 
7. 
E por fim, as orientações em como lidar com o dependente;  informações sobre dependência e drogas em geral (28%), seguido da troca  de experiências e orientações recebidas (24%) foram considerados de  maior importância pelos familiares que participaram do Grupo de  Orientação Familiar – Tabela 
8. 
DISCUSSÃO:
1. Dados relacionados aos dependentes: 
Com relação ao perfil do dependente, observamos a  predominância do sexo masculino (86%) com idade média de 26 anos e nível  de escolaridade inferior aos 
pais (1 
o  grau), fato este que foi comentado pelos participantes por várias  sessões. Foi levantada a hipótese de que o decréscimo ou a evasão no  desempenho escolar seja um dos primeiros comportamentos indicativos do  consumo de drogas, observados pelos pais, principalmente na população  mais jovem. Daí a necessidade de programas preventivos em 
rede escolar e em mídia, com enfoque em drogas ilícitas e lícitas (20).  
Outro fato que chamou atenção foi que 53% dos  usuários/dependentes possuíam atividade de trabalho, o que pode ter  indicado que esta clientela não atribuiu prioridade exclusiva à droga.  Alguns dos indícios que colaboraram com esta idéia foram a procura  anterior de algum tipo de assistência por parte do usuário/dependente  (35%) e a execução de tratamento na atualidade (71%). 
Um fator que pode ter contribuído para a média de idade dos  usuários/dependentes (26 anos) foi a predominância de usuários de drogas  ilícitas (65%), com mediana de 4 anos de uso, sendo que a família  descobriu o consumo em aproximadamente 1 ano e 6 meses. Ao analisarmos a  Síndrome de Dependência do Álcool ao longo de um "continuum" de  gravidade, cuja a intensidade dos sintomas e problemas decorrentes do  consumo aumentam gradativamente conforme o grau de dependência no  transcorrer do tempo (10), torna-se plausível a mediana de 15 anos de  consumo alcoólico e a descoberta por parte da família ao redor de 4  anos, também em decorrência da aceitação social do consumo alcoólico.  Esta mesma "aceitação" não ocorre com drogas ilícitas, uma vez que o  percurso do desenvolvimento da dependência de cocaína e crack, em termos  de complicações sociais, físicas, legais e familiares ocorre em período  de tempo menor quando comparado ao álcool, atingindo em sua maioria a  população jovem (14).
2.Dados relacionados aos familiares: 
Um dos fatos que chamou atenção foi a presença  predominante de mulheres, maioria mães (51%) , com idade média de 48  anos, com escolaridade de 2
o grau (39%) e em atividade de  trabalho (53%). Tal fato pode demonstrar uma peculiaridade desta  amostra, bem como a necessidade de levantamentos com este tipo de dados  para a constatação da clientela que procura uma abordagem familiar,  objetivando uma melhor estruturação do serviço, sendo que da família  como um todo, apenas 18% compareceram com mais de um participante no  tratamento.
Quanto ao que os familiares esperavam do tratamento foi  observada uma postura paradoxal entre orientação profissional e como  lidar com o dependente (31%) e a cura da doença (30%), ou seja, de um  lado uma postura ativa no sentido de tentar modificar algo na relação  familiar e do outro lado, a postura, porque não dizer de dependência dos  profissionais para a resolução do caso.
Com relação ao que o familiar tem feito para ajudar o usuário  de drogas, 32% relataram a postura de acolhimento, aconselhamento e  diálogo. No transcorrer das sessões estas posturas acabavam sendo a  maior fonte de dúvidas dos participantes e daí a procura de ajuda.  Interessante notar que surgiram as posturas de acompanhar em tratamento e  dialogar (15%) e acompanhar e procurar tratamentos (13%), denotando a  importância do tratamento. As evidências mostraram a necessidade deste  tipo de assistência a família, mas tal postura também pode ser remetida a  dependentes que procuram atendimento almejando a cura, deslocando a  isenção da própria responsabilidade neste processo. Fica a questão da  possibilidade deste movimento também ter ocorrência na família, pois em  28% das respostas surgiu a categoria tratamento. Talvez esta seja uma  linha de atuação profissional que lida com dependência química, no  sentido de trabalhar conscientização do 
papel de todos os envolvidos no processo de cura: 
paciente – família – tratamento, entre outros.   
Quanto aos motivos que levaram ao consumo/dependência, foi  interessante observar uma certa amplitude , muitos deles relacionados a  questões de cunho familiar. A postura adotada era de demonstrar como era  a dinâmica da personalidade do dependente e que os mesmos motivos que  poderiam levar uma pessoa à dependência química, poderiam não levar  outra pessoa ao mesmo caminho. Porém chamou atenção o fato de 23% dos  familiares não saberem os motivos e 13% alegarem a ausência de motivos  aparentes. Com isto, foi verificada a importância da necessidade de  trabalhar a integração e o diálogo na família. 
3. Dados relativos à participação no grupo:
Após a participação no grupo, os parentes  consideraram mais importante as orientações recebidas em paralelo com a  influência do grupo (31%), o que demonstrou a eficácia de um atendimento  grupal de familiares que possibilitou a troca de experiências.  Exemplificando, eram comuns esposas jovens com muita disponibilidade  para auxiliar seus maridos estimularem as mães de filhos dependentes  químicos, que estavam desanimadas e desesperançadas. Vale ressaltar o  surgimento da categoria limites (13%) que anteriormente não havia  surgido, demonstrando a necessidade de orientar os familiares a dizer  "não". Contudo, 12% colocaram a necessidade de paciência e compreensão,  fato que ao 
nosso ver pode  continuar representando uma postura passiva. Comparando a tabela 4 com a  tabela 6, foram observadas categorias inexistentes num primeiro  momento, tais como: mudança de relacionamento; paciência e compreensão;  auto – ajuda do familiar e a necessidade de apoio afetivo por parte do  familiar, o que pode ter indicado modificações nas atitudes dos  familiares, principalmente quando comparamos com as respostas  encontradas no primeiro questionário (desesperança familiar; vigiar;  rezar e agressão física e verbal, etc.). 
O conceito de dependência foi questionado para verificar o grau  de abstração das informações transmitidas e as respostas encontradas  foram coerentes: necessidade física e psicológica da droga (26%); uso  diário em termos de freqüência e quantidade (21%); não enfrentamento de  situações sem a substância 17%, retratando a dinâmica de funcionamento  da personalidade, entre outros, com exceção de vício/hábito (5%), que  pode ter demonstrado uma visão preconceituosa ou moralista.
As informações (conceitos básicos sobre dependência,  tolerância, síndrome de abstinência, etc.), orientações (como agir,  conversar, o que fazer em casos de intoxicação e/ou violência, etc.), e  troca de experiências entre os participantes do grupo foram considerados  pelos familiares como os itens mais importantes na participação do  serviço, denotando que o trabalho grupal, com caráter informativo pode  ser eficiente na modificação do relacionamento família - dependente, e  conseqüentemente aumentar a probabilidade do dependente motivar-se a  entrar num estágio de ação na modificação do comportamento 
aditivo e  efetuar/dar continuidade ao tratamento. Também foi necessário abordar o  próprio familiar para que observasse sua conduta (atuação) e seu  aspecto emocional, pois muitos casos foram encaminhados para tratamentos  posteriores (acompanhamento psicológico/psiquiátrico) ou no sentido de  retomar sua vida em termos de vida profissional, escolar, social e  religiosa. 
Quanto a aderência, obtivemos a porcentagem de 83% fato que se mostra coerente com a literatura (13; 
19;  23), evidenciando a necessidade de investimento neste âmbito de  tratamento, uma vez que a porcentagem de aderência do dependente é bem  inferior. 
Esta pesquisa procurou retratar uma experiência ambulatorial  com grupos de orientação familiar em dependência química. Estes dados  não podem ser generalizados, pois fazem parte de um estudo com uma  população específica, sendo que o objetivo foi de levantar algumas  idéias para a estruturação de serviço, trazendo novas perspectivas de  trabalho na área. A alternativa da terapia breve e grupal pareceu ser  rápida, prática e eficaz no sentido de adequar e orientar condutas mais  salutares, contribuindo para a melhora das relações e organização do  contexto familiar em dependência química .
TABELA 1.
Sequência das sessões no tratamento do Grupo de Orientação Familiar  em Dependência Química, realizado na UNIAD/UNIFESP, durante o período de  1995 à 1998.
| Sessões | Temas Discutidos | Objetivos | 
| Sessão 1 | Contrato e Queixa | Explicitar o objetivo do tratamento: cuidado com o familiar; Efetuar a vinculação terapêutica
 Aprender a lidar com a impotência/potência frente a cura do dependente;
 | 
| Sessão 2 | Trabalhar as emoções (reações típicas) ;
 Razões que levam ao uso; Comportamentos Indicativos | Reconhecer os sentimentos do familiar em relação ao dependente; Levar em conta os sentimentos que os dependentes provocam no  âmbito familiar, com o objetivo que essa transferência possa ser  interrompida;
 Perceber os vários motivos que podem levar ao consumo de drogas/álcool;
 Apontar comportamentos indicativos do consumo de drogas/álcool,  favorecendo a troca de experiências entre familiares que constataram o  consumo / dependência e familiares que não tinham a mesma convicção.
 | 
| Sessão 3 | Modelo dos Estágios de Mudança proposto por Prochaska e DiClemente – Dinâmica da personalidade (6;15;16) | Explicitar a dinâmica do processo de modificação de dependente/usuário para abstinente, em suas respectivas fases motivacionais; Introduzir o papel da recaída como fazendo parte do processo de mudança.
 | 
| Sessão 4 | O que fazer para ajudar ; Comportamentos a serem evitados | Discutir a necessidade de algumas atitudes que podem auxiliar ou piorar o prognóstico tanto do dependente , quanto da família. | 
| Sessão 5 | Sessão Informativa | Transmitir conceitos básicos sobre as drogas mais utilizadas, forma de utilização, efeitos e vias de administração; Discutir as dificuldades físicas (dependência, tolerância e síndrome de abstinência) e psicológicas para atingir a abstinência ]
 Reconhecer as formas de tratamento existentes.
 | 
| Sessão 6 | Plano de Ação para cada caso  | Definir metas específicas para cada familiar, com  orientação do terapeuta, que possam auxiliar na recuperação da saúde  mental da família. Discutir a participação no grupo, críticas e sugestões.
 | 
  
TABELA 2.
Dados demográficos de familiares e dos respectivos dependentes/usuários que participaram 
do Grupo de Orientação Familiar em Dependência Química, 
realizado na UNIAD/UNIFESP, durante o período de 1995 à 1998.
| Dados Demográficos | Familiares | Dependentes / Usuários de Drogas ou Álcool | 
| SEXO | 80% (N=117) mulheres 20% (N=29) homens
 | 86% (N=126) homens 14% (N=20) mulheres
 | 
| IDADE | Média = 48 anos Desvio Padrão =12 anos
 | Média = 26 anos Desvio Padrão =10 anos
 | 
| Atividade Formal de Trabalho | 53% (N=77) | 56% (N=82) | 
| Escolaridade | 39% (N=57) com 2º grau completo | 53% (N=77) com 1º grau completo | 
| Status Familiar | 51% (N=75) mães 15% (N=22) pais
 14% (N=20) esposas
 20% (N=29) outros (amigos, irmãos, filhos, esposos)
 | 66% (N=97) filhos 14% (N=20) maridos
 20% (N=29) outros (amigos, irmãos, pais, esposas)
 | 
  
TABELA 3.
Distribuição em porcentagem da opinião dos familiares em relação ao que esperavam 
do Grupo de Orientação Familiar em Dependência Química, realizado na UNIAD/UNIFESP, 
durante o período de 1995 à 1998– 1º questionário (N = 146)
|  | N | % | 
| Orientação profissional e como lidar com o dependente | 45 | 31 | 
| Cura da doença | 44 | 30 | 
| Auto ajuda do familiar | 14 | 10 | 
| Não sabem | 11 | 8 | 
| Conscientização do tratamento por parte do dependente | 10 | 7 | 
| Melhorar o relacionamento | 8 | 5 | 
| Orientação e cura | 6 | 4 | 
| Esclarecer dúvidas e aprender com outros casos | 4 | 3 | 
| Fazer tudo o que for possível | 4 | 3 | 
| TOTAL | 146 | 100 | 
  
TABELA 4.
Distribuição em porcentagem sobre o que os familiares alegaram ter feito 
para auxiliar o dependente quanto ao uso de drogas ou álcool no Grupo de Orientação Familiar 
em Dependência Química, realizado na UNIAD/UNIFESP, 
durante o período de 1995 à 1998 - 1º questionário (N=146)
|  | N | % | 
| Acolher, aconselhar e dialogar | 46 | 32  | 
| Acompanhar em tratamento e dialogar | 22 | 15 | 
| Acompanhar/ procurar tratamentos | 19 | 13 | 
| Desesperança familiar | 9  | 6 | 
| Mostrar os perigos e as conseqüências da droga | 8 | 6 | 
| Vigiar | 8 | 5 | 
| Rezar | 8 | 5 | 
| Reabilitação social (escola, emprego, documentos) | 7 | 5 | 
| Tudo o que for possível / Amor | 7 | 5 | 
| Buscar informações | 6 | 4 | 
| Ter muita paciência | 3 | 2 | 
| Agressão física e verbal | 3 | 2 | 
| TOTAL | 146 | 100 | 
  
TABELA 5.
Distribuição em porcentagem da opinião dos familiares  quanto a existência de algum motivo para o usuário ter desenvolvido a  dependência química no Grupo de Orientação Familiar em Dependência  Química, realizado na UNIAD/UNIFESP, durante o período de 1995 à 1998-1º  questionário (N = 146)
|  | N | % | 
| Não sabe | 33 | 23 | 
| Sem motivos aparentes | 19 | 13 | 
| Más companhias – influência dos amigos | 18  | 12 | 
| Aspectos psicológicos (insegurança, trauma de  infância, fuga de problemas, personalidade fraca, falta de  responsabilidade, negação) | 18 | 12 | 
| Influência familiar (brigas, falta de disciplina, desintegração, desatenção, educação rígida, violência, término do casamento) | 16  | 11 | 
| Separação dos pais / Traição | 16 | 11 | 
| Dependência química dos pais | 10 | 7 | 
| Morte de um familiar | 9 | 6 | 
| Problema financeiro/ Desemprego | 5 | 3 | 
| Acidente | 2 | 2 | 
| TOTAL | 146 | 100 | 
  
TABELA 6.
Distribuição em porcentagem sobre a opinião de  familiares relacionada a melhor forma de auxiliar o dependente químico  após a participação no grupo de Grupo de Orientação Familiar em  Dependência Química, realizado na UNIAD/UNIFESP, durante o período de  1995 à 1998 - 2º questionário (N= 81)
|  | N | % | 
| Orientar o dependente/usuário (conversar, dialogar, aconselhar, evitar dar dinheiro) + influência grupal | 24  | 31 | 
| Estabelecer Limites | 11 | 13 | 
| Modificar o relacionamento (forma de tratar, evitar discussão, não falar somente sobre drogas, conversar na sobriedade) | 11 | 13 | 
| Ser paciente e compreensivo | 10 | 12 | 
| Orientar a procura de tratamentos | 8 | 10 | 
| Auto ajuda do familiar | 8 | 10 | 
| Amor (atenção, companhia) | 6 | 7 | 
| Valorizar a necessidade de apoio afetivo para a família | 3 | 4 | 
| TOTAL | 81 | 100 | 
  
TABELA 7. 
Distribuição em porcentagem da opinião de familiares quanto ao conceito  de dependência química no Grupo de Orientação Familiar, realizado na  UNIAD/UNIFESP, durante o período de 1995 à 1998 - 2º questionário (N =  81)
|  | N | % | 
| Necessidade da droga (físico e psicológico) | 21  | 26 | 
| Uso diário (freqüência de uso e quantidade) | 17  | 21 | 
| Não enfrentamento de situações sem a substância | 14 | 17 | 
| Perda do controle do consumo | 7 | 9 | 
| Ter a vida centrada nas drogas e não na pessoa | 6 | 7 | 
| Síndrome de Abstinência da substância | 4 | 5 | 
| Vício / Hábito | 4 | 5 | 
| Conceito de doença curável | 3 | 4 | 
| Algo que necessita de tratamento | 2 | 2 | 
| Não responderam | 2 | 2 | 
| Outros | 2 | 2 | 
| TOTAL | 100 | 81 | 
  
TABELA 8.
Distribuição em porcentagem da opinião de familiares  sobre o que foi mais importante no Grupo de Orientação Familiar em  Dependência Química, realizado na UNIAD/UNIFESP, durante o período de  1995 à 1998 - 2º questionário (N=81)
| 
 | N | % | 
| Orientações e informações sobre drogas e em como lidar com o dependente | 23 | 28 | 
| Troca de experiências + Orientação | 20  | 24 | 
| Troca de Experiências | 11 | 13 | 
| Orientações e auto – ajuda do familiar | 6 | 7 | 
| Auto - ajuda do familiar | 6 | 7 | 
| Confiança e atuação do terapeuta | 5 | 6 | 
| Estabelecer limites | 3 | 4 | 
| Conscientização da existência do problema | 3 | 4 | 
| Esperança da cura / conceito de doença | 2 | 3 | 
| Outros | 3 | 4 | 
| TOTAL | 81 | 100 | 
   Referências Bibliográficas:
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Neliana Buzi Figlie; Sandra Cristina Pillon; John Dunn; Ronaldo Laranjeira
laranjeira[arroba]uniad.org.br
Neliana Buzi Figlie- Psicóloga e Pós-Graduanda da UNIAD - Depto de Psiquiatria da UNIFESP
Sandra Cristina Pillon- Enfermeira Mestre da UNIAD - Depto de Psiquiatria da UNIFESP
John Dunn – Doutor em 
Psiquiatra, coordenador da UNIAD - Depto de Psiquiatria da UNIFESP 
Ronaldo Laranjeira- Doutor em Psiquiatria, Coordenador da UNIAD e Professor Adjunto do Depto de Psiquiatria da UNIFESP