quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Aprender com as Diferenças

Sandra Estêvão Rodrigues Licenciada em Psicologia, Mestra em Psicologia da Saúde, ambos os graus pela Universidade do Minho, Braga - Portugal.

O Patinho feio

O meu contributo para uma versão revista e ampliada
A D. Patiana chocou todos os seus ovos com o mesmo calor e por isso esperava todos os seus patinhos lindos e espertos. Mas um deles, ao qual chamou Patusco, não correspondia ao seu imaginário: era estranho, de cabeça achatada e uns olhos esbugalhados.
Quando mostrou os filhitos ao pai, o Sr. Patolino ficou muito desconfiado com a aparição daquele filho tão diferente. Disse à companheira que talvez ela tivesse dado uma escapadela com um pato turista. A D. Patiana ficou ofendida, era só o que lhe faltava, nascia-lhe um filho tão esquisito e ainda tinha que aguentar acusações. Pôs-se então a pensar se não teria havido alguma troca de uma das suas vizinhas de choco.
Quando percebeu que não conseguiria comprovar essa suspeita, começou a pensar que uma das patas que invejavam o seu companheiro talvez pudesse ter-lhe lançado uma maldição. E, mais uma vez, nada podia comprová-lo. Seria então algum castigo do Deus Patão por ela ter sido tão vaidosa? Ou seria um defeito genético passado de gerações anteriores e que agora se manifestava? Por mais que quisesse alguém ou alguma coisa a que atribuir as culpas, nada conseguia. Portanto, havia que assumir que era seu filho e cuidá-lo como aos outros. Mas custou-lhe muito. Chorou rios de lágrimas, sentiu-se traída pelo destino. Vendo o seu sofrimento, o Sr. Patolino concluiu que, em vez de passar a vida a discutir com a companheira, tinha era de estar do lado dela e decidirem juntos o que fazer para educar o Patusco.
Começaram por procurar a opinião do Dr. Patologista, que lhes comunicou que o Patusco tinha sofrido alterações no cromossoma 21, chamando-se a este problema “Síndrome de Down”. O que havia a fazer era estimulá-lo muito, ter mais paciência com os seus progressos e dar-lhe mimos, como a qualquer outro filho.
Assim apresentado o problema, aos pais não parecia tão difícil a situação. Porém, sofriam bastante quando saíam todos a passear e tinham de parar a cada instante para ouvir comentários de outros membros da sua comunidade: “oh, coitadinho deste patinho... que lhe sucedeu?”. Ou então: “ontem na rádio Patadas estavam a publicitar uma cura milagrosa na Patolândia! Não deveriam ir já lá?”. E ainda: “Não vamos deixar os nossos filhos brincar com esse pato esquisito... isso pode traumatizá-los!”. Por seu lado, os irmãos e familiares do Patusco andavam confusos e dividiam-se: uns tinham vergonha daquele parente, outros queriam fazer tudo por ele, até sufocá-lo de tantas atenções, mas também havia os que brincavam com ele, ajudavam quando era preciso e consideravam-no apenas mais um entre eles.
Apesar de demorar mais do que os irmãos a começar a andar e a grasnar, o Patusco ia progredindo no seu desenvolvimento. No entanto, devido à forma como muitas vezes era tratado, sentia-se demasiado diferente e andava cabisbaixo e solitário.
Chegou, então, a altura de ir para a escola. A D. Patiana foi apresentá-lo à professora, D. Patonga, que olhou para ele com um misto de curiosidade e apreensão, dizendo: “mas eu não posso aceitar esse patinho para a minha escola! É que eu não sei o que fazer com ele, nunca tive um aluno assim!”. Ao que a D. Patiana respondeu: “sabe, eu também nunca tinha tido um filho assim! Ninguém me preparou para isto, mas tenho aprendido!”. Perante estas palavras, a D. Patonga ficou sem argumentos e, balbuciando, disse que iria tentar e ver o que conseguia.
Logo que se comprometeu a incluir o Patusco na sua escola, a D. Patonga mantinha os mesmos objectivos para ele, mas experimentava várias estratégias, inventava actividades para todos participarem, chamava os pais para conversar. O Patusco tinha muitas dificuldades em aprender, por isso tinham de deixar que ele fosse até onde conseguia ir.
Entretanto, a mãe de um dos colegas falou à D. Patiana de uma sua vizinha que tinha uma filha com problemas parecidos aos do Patusco, mas que não ia à escola e era muito protegida. A D. Patiana foi conversar com a mãe, a D. Patelma. Esta, apesar de ter começado por perguntar para que serviria mandar a sua filha Patufa para a escola, acabou por se convencer que seria melhor enviá-la, para que se desenvolvesse junto com os outros.
Um dia, a D. Patonga chamou à escola outro professor que sabia bastante sobre a tal Síndrome de Down, podia falar-lhes sobre o assunto e ajudá-los nalgumas aprendizagens mais específicas. Foi assim que o Sr. Patosé conheceu aqueles pais e os pôs em contacto com outros que tinham filhos com o mesmo problema. Eles ficaram satisfeitos por perceberem que afinal havia outros nas mesmas circunstâncias, com quem podiam aprender como resolver algumas dificuldades. Organizaram vários encontros para conversarem sobre as suas dúvidas e, num deles, apareceram os pais de um colega de classe do Patusco que não aparentava qualquer dificuldade. Curiosos, perguntaram-lhes o que faziam ali, ao que responderam que todos podiam aprender uns com os outros as dificuldades de serem pais. Disseram ainda que estavam satisfeitos porque verificavam que o seu filhito estava mais crescido e solidário por conviver com patinhos diferentes.
Nas grandes festas Patoninas, D. Patiana sugeriu que convidassem o Patony, um cantor que tinha Síndrome de Down, para ir animar a festa e o jornal Bico de Pato foi lá fazer uma reportagem.
No dia seguinte, D. Patelma foi ter com a D. Patiana, levando o jornal, dizendo toda eufórica: “já viu, podíamos treinar a Patufa e o Patusco e quem sabe venham a ser assim famosos!”. A D. Patiana retorquiu um pouco indignada “já ouviu como os nossos filhos são desafinados a cantar o hino quá quá, como acha que vão agora tornar-se cantores? Eles saberão fazer outras coisas bem, mas cantar é que não! Sugeri o Patony porque gosto de o ouvir, especialmente aquela música da pata na poça!”. A D. Patonga, que se aproximava, meteu a sua bicada na conversa: “claro, claro, não temos de ter todos as mesmas dificuldades nem as mesmas competências.
Além disso, não é a deficiência que faz o Patony ser melhor cantor, nem deve ser essa a principal característica de alguém”. A D. Patiana rematou: “só faltava agora acreditar-se que uma deficiência torna os que a têm bonzinhos”. E contou-lhes a história de um pato que não andava e que tentava usar a pena que despertava nos outros a seu favor. Foi então que o Patusco declarou “eu sou diferente, mas quero ser igual a todos!”. E D. Patelma, com um ar sonhador, disse: ”então devia haver um lugar para cada um de nós, independentemente de como sejamos fisicamente...”. A D. Patiana sorriu e disse “é para isso que trabalhamos, queremos uma oportunidade para todos, ainda que diferentes na igualdade da nossa espécie”. O Patusco acrescentou: “eu não quero estar contente só com a Patufa e com os que são iguais a mim, quero brincar com os outros também!”. E D. Patonga afagou-lhe a cabeça com um ar vaidoso pelo seu pupilo.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Uma estrela brilha sobre a hora do nosso encontro.

A criança que é permitida desrespeitar os pais, nunca terá respeito verdadeiro por nada nem por ninguém.
A primeira vez que eu vi uma fileira de cocaína foi com 17 anos de idade. Foi em uma big festa. Em um big casarão. Na Vila Mariana em São Paulo.
Naquela noite o meu objetivo era dar uns beijos em uma morena de olhos verdes maravilhosa que eu estava super afim.
Eu fui até aquela festa justamente porque eu sabia que ela estava lá. E eu estava certo.
Quando eu entrei no casarão a primeira pessoa que eu vi foi a morena de olhos verdes.
Ela estava na sala da casa no meio de um grupo de amigos todos ajoelhados de frente para a mesa de centro.
Ela parecia uma espécie de Jesus Cristo versão feminina cercada pelos apóstolos da Santa Ceia do Leonardo da Vinci. Todos ajoelhados e prontos para começar a santa ceia, só que no caso, na mesa de centro não tinha pão e vinho, mas vinte fileiras de cocaína.
A cena que eu vou descrever agora para vocês foi tão marcante na minha vida que eu me lembro como se fosse hoje.
Enquanto eu andava em direção a sala, a morena maravilhosa abaixou a cabeça sobre a mesa, enfiou um canudinho no nariz e cheirou a fileira de cocaína como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Eu me lembro da expressão de êxtase do seu rosto quando ela levantou a cabeça, lentamente abriu os olhos, sorriu para mim e disse:
"Oiiiiii Ricardão, Você veiiio. Vem cááá. Eu quero ficar com você. Mas antes bonitão, cheira uma carreirinha comigo vai, pega aí!"
Eu olhei para os olhos daquela menina maravilhosa. Olhei para os meus amigos que estavam ao seu lado dizendo "Vai lá Ricardão, manda vê!", e respondi:
"Não, obrigado. Eu vou pegar uma Coca-Cola na cozinha e já volto. Eu quero ficar com você"
Pausa.
O que você faria nessa situação?
A menina que você é apaixonado te oferece uma droga para ficar com você. Os caras mais descolados da escola querem que você se enturme com eles.
O que um garoto metido a revoltado aos seus 17 anos de rebeldia poderia fazer frente a tamanha pressão "social"?
Naquele dia um dos meus três amigos que estavam com a morena de olhos verdes experimentou cocaína pela primeira vez. O cara gostou tanto da brincadeira, que se tornou um viciado na droga. Desde então ele perdeu 20 anos da sua vida brigando contra o vício. Hoje ele é um homem de 40 anos de idade com um cérebro de um moleque de 15.
O meu amigo topou a parada, eu não, por que?
Por que o faustão disse que cocaína era uma droga?
Por que a Folha de São Paulo disse que eu não deveria entrar nessa?
Por que a internet da época mostrava cenas terríveis de gente drogada?
Por que a escola que eu estudava me disse que drogas era besteira?
Não, nada disso.
Eu não cheirei cocaína naquele noite por causa da educação que eu tive dos meus pais.
Eu não me lembro de nenhuma situação quando eu era criança onde os meus pais sentaram comigo por 30 minutos para falar sobre os perigos da cocaína.
Eu acredito que os meus pais nunca sequer viram na vida deles uma fileira de cocaína para serem capazes de me convencer de alguma coisa.
Os meus pais nunca me falaram sobre como reagir a uma situação onde a garota dos meus sonhos oferecesse cocaína para mim.
Mas eu sabia exatamente o que fazer naquela situação.
Quando eu era criança os meus pais não falavam sobre cocaína, mas me falavam sobre livros.
Quando eu era criança os meus pais nunca falaram sobre maconha, mas tiravam dinheiro não sei de onde para bancar 30 dias de férias com todos os filhos em São Lourenço, Tambaú, Rio Claro, Santos e Guarujá.
Quando eu era criança os meus pais não me falaram sobre os perigos das drogas, mas eles paravam tudo que estavam fazendo uma vez por mês para uma sessão de projeção de slides e super-8 na parede da nossa casa, onde eles contavam histórias fantásticas de quando nós éramos bebês com direito a cachorro quente e pipoca.
Eu sou um cara ultra otimista, prá cima, e com muitas opções na minha vida por causa do amor que eu recebi dos meus pais.
Eu gosto de escrever, de ler, de estudar, de dar aulas, de compartilhar conhecimento, de criar coisas, de inventar novas maneiras de viver por causa das cobranças de melhorias que eu tive dos meus pais.
Eu tenho dinheiro hoje por causa dos investimentos que os meus pais fizeram em mim.
Eu tenho uma família hoje por causa da família que eu tive com os meus pais.
Eu educo os meus filhos hoje como eu fui educado pelos meus pais.
As vezes você ouve alguém dizendo que o cara que teve uma educação rígida, acaba sendo brando com os filhos, ou vice-versa. Ouve-se que a educação que se dá aos filhos é sempre reversa a educação que se teve.
Eu não.
Eu estou educando os meus filhos com a mesma exata educação que eu tive dos meus pais. Sem mudar uma vírgula.
Ao educar como eu fui educado, eu vou bater de frente com todo tipo de porcaria, drogas, consumo e status da sociedade que vivemos. Mas eu vou educar os meus filhos da mesma maneira que fui educado.
Eu tenho certeza que daqui vinte anos os meus filhos saberão o que fazer quando um bacana qualquer quiser fazer a cabeça deles.
E tudo isso por causa dos meus pais, o bonitão José Lauro Magalhães, e a a bonitona Maria Stela Jordão Magalhães. Ou simplesmente, José e Maria, ou Lauro e Stela.
Eu estou escrevendo esse texto hoje porque os meus pais estão vivos. Bem vivos!
Eu estou escrevendo esse texto hoje porque eu quero fazer uma homenagem a eles publicamente, enquanto eles estão vivos.
Eu quero que eles saibam que tiveram, tem e sempre terão um impacto profundo na minha vida, na vida dos meus filhos, e provavelmente na vida dos filhos dos meus filhos.
NADA MENOS QUE ISSO INTERESSA!
Eu estou escrevendo esse texto hoje para te incentivar a fazer o mesmo.
Eu quero que você tenha a humildade de ligar para alguém que teve um impacto profundo na sua vida, e diga a essa pessoa o quanto você é agradecido.
Faça essa pessoa saber o quanto ela foi importante para você.
Ainda que as melhores pessoas desse mundo não precisem desse tipo de elogio; os meus pais, as pessoas que tiveram uma influência importante na sua vida, merecem e precisam saber o quanto são importantes para você.
Dê a eles um pouco da sua energia, diga a eles que podem relaxar um pouquinho, que podem cuidar das suas próprias vidas.
Diga a eles que você está formado, que você aprendeu, que a orientação e amor que você recebeu, te blindaram para enfrentar qualquer parada que virá pela frente.
Porque uma estrela brilha, e sempre brilhou, sobre a hora do seu encontro com esses seres humanos iluminados.
QUEBRA TUDO! Foi para isso que eu vim! E Você?
Ricardo Jordão Magalhães
Filho do José Lauro e da Maria Stela
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BIZREVOLUTION

Eu sou fã do Ser Humano. E Você?